04 agosto 2019

Todo domingo

Todo domingo deixa um gosto ruim na boca, como uma ressaca ou um último beijo. Todo domingo, eu espero que você venha me ver porque bateu saudade ou tristeza ou carência ou porque o céu estava azul e poderíamos ter passeado de mãos dadas pelo verde das ruas.
Todo domingo me deixa com culpa, como se eu tivesse matado alguém e que seria errado desfrutar de um dia cheio de nada, como se eu não merecesse o vazio dos dias que é o mesmo vazio entre meus braços e pernas. Todo domingo eu espero ouvir tua voz ao meu ouvido pedindo desculpas por ter matado cada sentimento bom que eu já ousei ter.
Todo domingo eu espero que você morra porque eu passaria a ter motivos para a tristeza de domingo. Me vejo daqui uns anos, sussurrando à janela fechada, meu fôlego marcando o vidro, "foi num domingo que ele morreu".
Todo domingo eu espero que voltemos para que haja luz e alegria em um dia tão inexplicavelmente triste, só para, daqui uns anos, eu diga contra a janela aberta, o sol do inverno tocando cada parte pálida de mim, "foi num domingo em que ele apareceu, disse meu nome e foi isso. O mundo tomou forma e foi isso".
Todo domingo eu apenas que o dia acabe.
Comigo.